29 de março de 2020
O General de Divisão da Reserva do Exercito Brasileiro, Ajax Porto Pinheiro, 63 anos, atualmente ocupa o posto de Assessor Especial da Presidência do Supremo Tribunal Federal, mas a vida nem sempre foi assim. Com missões dignas de todas as honrarias que tem direito, o General Ajax, foi nomeado pela ONU comandante das tropas de Missões de Estabilização da ONU no Haiti, bem como serviu como Observador Militar das Nações Unidas em El Salvador.
Com muita experiência e vivencia em conflitos locais com repercussões mundiais e situações de pânico mundial, realizou um pronunciamento para todo o povo brasileiro, exposto a seguir.
” Em setembro de 2001 eu morava em Washington com a família, filhos estudando em escolas americanas. Veio o atentado às Torres Gêmeas e o Pentágono. De um dia para o outro nosso mundo virou de cabeça para baixo. Medo de sair de casa, medo de atentado terrorista , americanos nos olhando desconfiados por sermos estrangeiros, recebimento de cartas suspeitas de contaminação com antrax, aulas suspensas, filas intermináveis em aeroportos e supermercados. Mas a vida e a missão precisavam continuar.
Em 2010 ao chegar com meu batalhão no Haiti, 320.000 haitianos haviam morrido em pouco mais de 5 minutos. Proporcionalmente era como se aproximadamente 7 milhões de brasileiros morressem em 5 minutos! 40.000 sofreram amputação de membros, 1,5 milhão de desabrigados.
Foram vitimas do violento e apavorante terremoto “SISMO DO HAITI”. Desespero, crime descontrolado, dor, fome, corpos putrefatos enterrados em valas coletivas, desesperança, falta de tudo, endemias como malária, tifo, hanseníase. Um inferno que só quem vivenciou entende o significado desta palavra. E mesmo nesse caos alguém precisava agir , dar respostas e resolver os problemas.
Depois veio o devastador furacão Mathew em outubro de 2016 destruindo tudo a mais de 250 km/h. Arrasou o sul do Haiti , Caribe e atingiu a Florida com a mais alta categoria de devastação ( Cat 5). O mesmo cenário de desespero e morte no ar. De novo alguém precisava manter a calma , observar, coordenar, trabalhar em equipe, analisar e agir. As tropas da ONU estavam lá!
De tudo que testemunhei aprendi que nessas horas é comum o desencontro de opiniões, os atritos entre os que têm que dar soluções aos problemas. Com o tempo há uma tendência de as opiniões convergirem em busca das melhores respostas. Aos que lideram em diversos níveis é importante manter a frieza e entender que os desafios são mutantes e as soluções têm que ser adaptadas diariamente. Recuar, adaptar, aceitar opinião diferente da sua não é fraqueza, é sinal de inteligência!
Outra lição que aprendemos naqueles dias e meses terríveis foi entender que fazíamos parte da solução. Tínhamos que manter em mente era não deixar que a vaidade contaminasse nossas decisões. A vaidade é péssima conselheira nessas horas! A humildade para entender que ninguém entende de tudo deve ser incutida em todas as lideranças. Isso conta muito para a condução da crise.
E, finalmente, para se decidir na crise, a cabeça e o corpo têm que estar trabalhando em harmonia, daí a necessidade imperiosa de se manter a higidez praticando exercícios físicos regulares e sempre quando possível ocupar a mente com atividades que não tenham relação com o problema.
Não há como comparar crises localizadas com o que ocorre no mundo agora, mas, às vezes, para quem está dentro do furacão, a crise localizada é muito mais violenta e aterradora que aquela que nos assombra no momento. Crises sempre trazem lições que podem ser adaptadas. Quem não aprende com os erros está fadado a repeti-los.
NÃO HÁ MAL QUE SEMPRE DURE NEM BEM QUE NUNCA SE ACABE!”
General de Divisão – AJAX PORTO PINEIRO, 29 de março de 2020.
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