11 de abril de 2024
O Ministério Público revelou que dinheiro proveniente do tráfico de drogas e de outros crimes associados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) foi utilizado por duas empresas de ônibus para vencer licitações de transporte público em São Paulo e comprar pelo menos 50 coletivos.
As ilegalidades foram detalhadas em denúncia elaborada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo) contra as empresas Transwolff e UPBus, que transportam cerca de 700 mil passageiros por dia e receberam mais de R$ 800 milhões da Prefeitura de São Paulo em 2023.
Na terça-feira (9), em uma operação, 26 pessoas foram denunciadas por crimes como organização criminosa, lavagem de dinheiro, extorsão e apropriação indébita. Quatro acusados foram presos, incluindo Luiz Carlos Efigênio Pacheco, conhecido como Pandora, proprietário da Transwolff, e outras três pessoas ligadas à empresa.
Em 2015, durante a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), foi exigida uma comprovação de capital mínimo de R$ 25 milhões para as empresas participarem de uma licitação municipal. Para atender a essa exigência, a Transwolff, que operava na zona sul de São Paulo através de contratos emergenciais, se associou à empresa MJS Participações Ltda.
A investigação mostrou que a MJS foi utilizada para ocultar a entrada milionária de dinheiro na Transwolff, aumentando seu capital social de R$ 1 milhão para R$ 55 milhões em 2015. Os valores foram obtidos por meio de depósitos em dinheiro fracionados e sem origem demonstrada.
Além disso, parte dos depósitos incorporados ao capital social da Transwolff foi feita através de financiamentos em um pequeno banco da zona sul de São Paulo, do qual os sócios da empresa de ônibus também eram correntistas.
Outra parte veio de empréstimos feitos por 88 pessoas físicas e empresas individuais, sem capacidade econômica comprovada, das quais 39 eram ou se tornaram funcionários da Transwolff. A MJS Participações não desempenhou nenhuma atividade operacional, não teve funcionários, não adquiriu nem alienou nenhum bem imóvel, e não possuiu ônibus.
A UPBus, outra empresa de ônibus investigada no esquema, também teve um aumento significativo de capital social em 2015, de R$ 1 milhão para R$ 20,4 milhões, e novos sócios pagaram a entrada na empresa com veículos usados. Entre os acionistas da UPBus, há indícios de envolvimento direto com a cúpula do PCC ou com suspeitos de crimes.
A investigação aponta que Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta e apontado como líder da facção criminosa, foi um dos acionistas. Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, considerado um dos dirigentes da UPBus, está foragido.
Os cheques enviados pela MJS à Transwolff, no valor total de R$ 26.285.000, foram usados para a compra de 50 ônibus em 2015, com o propósito de lavar dinheiro do crime. Em 2019, a mesma empresa doou 45 desses veículos como pagamento de supostos empréstimos feitos por empresas individuais de pessoas ligadas à própria Transwolff.
O patrimônio de Pandora saltou de R$ 15 para R$ 80 milhões em apenas um ano, de 2017 a 2018, o que chamou a atenção do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Pandora já foi indiciado em 2006 por formação de quadrilha.
As duas empresas foram procuradas pela reportagem, mas não responderam.
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