26 de novembro de 2024
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou nesta segunda-feira (25) a aprovação de um novo medicamento para tratar câncer de pulmão em fases iniciais. O remédio, chamado Alecensa, utiliza a molécula alectinibe, que já era empregada no tratamento de casos avançados da doença.
Um estudo publicado em abril no The New England Journal of Medicine demonstrou que o alectinibe reduz em 76% o risco de recorrência ou morte em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células ALK-positivo diagnosticado precocemente. A pesquisa, conduzida em 27 países com 257 participantes, comparou a eficácia do medicamento com a quimioterapia baseada em platina, o tratamento padrão. Após três anos, 90% dos pacientes tratados com alectinibe estavam livres da doença.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de pulmão é a quarta neoplasia mais comum no Brasil e a que mais causa mortes. Cerca de 85% dos casos diagnosticados são do tipo não pequenas células, e aproximadamente 5% desses apresentam a mutação no gene ALK, que afeta principalmente pessoas jovens com histórico leve ou nenhum histórico de tabagismo.
Clarissa Baldotto, presidente do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT) e diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), alerta que quase metade dos pacientes diagnosticados com câncer de pulmão não pequenas células em estágio inicial apresenta recidiva mesmo após cirurgia e quimioterapia.
Segundo Michelle França, líder médica da Roche Farma Brasil, o Alecensa é o primeiro inibidor de ALK aprovado para pacientes em estágio inicial do câncer de pulmão não pequenas células ALK-positivo, após a remoção cirúrgica do tumor. Atualmente, a abordagem padrão é a quimioterapia, mas muitos pacientes ainda enfrentam recorrência e metástase. França ressalta que, além de ser a única terapia-alvo aprovada para esses casos iniciais, o medicamento também pode reduzir o risco de metástases cerebrais, especialmente na população jovem.
Dados do Instituto Oncoguia revelam que quase 90% dos casos de câncer de pulmão no Brasil são diagnosticados em estágios avançados ou metastáticos, nos quais o tratamento é mais complexo e com piores prognósticos. Isso reforça a necessidade de políticas públicas de rastreamento, como acontece no caso do câncer de mama. Estudos indicam que iniciativas de rastreamento e ações antitabagismo podem reduzir em até 20% a mortalidade pela doença.
O alectinibe, que é administrado por via oral, já foi aprovado como tratamento de primeira ou segunda linha para o câncer de pulmão ALK-positivo em estágio avançado em mais de 100 países, incluindo o Brasil. Sua nova aplicação para estágios iniciais também recebeu aval na Europa e nos Estados Unidos.
Apesar da aprovação, a Roche ainda não solicitou a inclusão do Alecensa no Sistema Único de Saúde (SUS), mas planeja fazê-lo no futuro. Além disso, no início do mês, a Anvisa já havia autorizado outro tratamento, destinado ao câncer de pulmão de pequenas células em estágio avançado, considerado o tipo mais agressivo, embora menos comum.
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