4 de fevereiro de 2025
Com o aumento dos relatos de operações surpresa do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândega dos Estados Unidos) em locais frequentados por imigrantes, brasileiros e estrangeiros de diversas nacionalidades têm voltado a utilizar aplicativos populares na época do primeiro mandato de Donald Trump para driblar a fiscalização.
Entre essas ferramentas está o Padlet, uma plataforma que ganhou popularidade entre imigrantes para compartilhar em tempo real informações sobre a presença de agentes do ICE. O aplicativo funciona de maneira semelhante ao Waze, usado no Brasil não apenas para rotas de trânsito, mas também para alertas sobre blitze policiais. No caso do Padlet, os usuários conseguem indicar a localização de operações de imigração em mapas interativos.
Além do Padlet, comunidades imigrantes recorrem a outros meios de proteção, como cartazes com números de telefone úteis para casos de detenções durante essas ações. Algumas organizações de apoio a imigrantes também planejam desenvolver seus próprios sistemas de alerta para ampliar a rede de segurança.
As ações do ICE têm sido amplamente divulgadas pelo governo Trump, que utiliza as redes sociais oficiais da Casa Branca para divulgar diariamente o número de imigrantes detidos. Desde o início das operações, foram realizadas ao menos duas grandes batidas em Chicago e Nova York, com a presença da secretária do Departamento de Segurança Interna, Kristi Noem, supervisionando pessoalmente uma delas. O órgão já reportou mais de 7.000 detenções, sendo a maioria de pessoas sem antecedentes criminais. Ainda assim, o ICE foca em divulgar imagens de detidos com registros criminais, destacando os crimes cometidos.
Em 2023, 3.356 brasileiros foram detidos pelo ICE. Desse total, 319 tinham condenações criminais, 393 respondiam a processos e 2.644 foram presos por infrações às leis de imigração. O Itamaraty estima que havia cerca de 2 milhões de brasileiros vivendo nos EUA no mesmo ano, sem detalhar o status legal desses indivíduos. Já o ICE aponta que 38 mil brasileiros tiveram ordens de deportação aprovadas durante o governo Trump.
Para o advogado especializado em imigração, Felipe Alexandre, é improvável que o governo consiga restringir o uso de aplicativos como o Padlet, uma vez que isso envolveria questões de liberdade de expressão. “As pessoas estão apenas informando a presença do ICE, sem divulgar dados sensíveis”, explica ele, destacando que o app tem sido bastante usado por brasileiros em estados como Flórida, Massachusetts e Nova Jersey.
Em locais com forte presença de imigrantes, como o bairro de Wheaton, em Maryland, é possível perceber o impacto das políticas de imigração no dia a dia da comunidade. A brasileira Roberta Rocha, de 43 anos, proprietária de um mercado tradicional na região, conta que o movimento em seu comércio caiu desde o início do novo mandato de Trump. “Muita gente evita se expor porque o ICE entra nas lojas procurando por imigrantes”, relata.
Já o baiano Rosenildo Silva, de 53 anos, dono de uma barbearia em Maryland, diz não ter notado mudanças significativas em sua rotina. Vivendo nos EUA há 17 anos, ele acredita que o foco da administração Trump está em deportar pessoas com antecedentes criminais. “Acredito que quem trabalha, paga impostos e respeita as leis não tem com o que se preocupar”, afirma.
Maryland é um dos estados com maior número de imigrantes e políticas de acolhimento. Dados de 2022 mostram que 16,6% da população — cerca de 6 milhões de habitantes — era composta por pessoas nascidas fora dos EUA. Entre os trabalhadores, o número é ainda mais expressivo: 22% são imigrantes, refletindo a importância dessa comunidade para a economia local.
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